O vício em apostas — especialmente nas famosas bets — virou um problema de saúde pública no Brasil. Além de destruir finanças de famílias inteiras, o jogo compulsivo já pressiona a saúde mental de milhares de brasileiros.
Para enfrentar essa crise, os ministérios da Saúde e da Fazenda anunciaram um pacote de ações que vai desde prevenção até atendimento remoto pelo SUS.
Autoexclusão começa em 10 de dezembro
Entre as novidades está a plataforma de autoexclusão, que permitirá ao apostador pedir o bloqueio total do próprio CPF em sites de apostas. Quem optar pelo recurso também ficará livre de anúncios e não poderá fazer novos cadastros.
O objetivo é dar uma saída imediata para quem quer interromper o vício.
Um estudo divulgado pelo governo mostra a dimensão do problema: as bets já causam um prejuízo anual de R$ 38,8 bilhões ao país, somando impactos econômicos e sociais.
Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas
Outro ponto do acordo é a criação do Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas, que será um sistema contínuo de troca de dados entre Saúde e Fazenda.
Com isso, equipes do SUS poderão identificar perfis de risco e oferecer apoio psicológico e acolhimento.
Segundo o ministro Alexandre Padilha, a meta é que o governo consiga chegar até essas pessoas com “ombro amigo e braço de apoio”.
Atendimento presencial, online e via Meu SUS Digital
Além da autoexclusão, o pacote inclui:
- Orientações sobre onde buscar ajuda nos serviços do SUS;
- Informações disponíveis no Meu SUS Digital e na Ouvidoria do SUS;
- A nova Linha de Cuidado para Pessoas com Problemas Relacionados a Jogos de Apostas, com protocolos clínicos e fluxos de atendimento.
E o principal: a partir de fevereiro de 2026, o SUS passará a ofertar teleatendimento em saúde mental focado em vício em apostas, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês.
A previsão inicial é de 450 consultas online por mês, com possibilidade de expansão.
Regulamentação das bets
Durante o anúncio, o ministro Fernando Haddad criticou a falta de regulamentação entre 2019 e 2022. Ele destacou que agora existem regras claras para:
- tributação;
- propaganda e marketing;
- combate à lavagem de dinheiro;
- proteção a grupos vulneráveis.
Segundo ele, nenhum CPF de criança, beneficiário do BPC ou do Bolsa Família poderá ser usado em sites de apostas.
Perfil do apostador em situação de risco
O Ministério da Saúde identificou um aumento expressivo de atendimentos:
- 2023: 2.262
- 2024: 3.490
- Jan–jun/2025: 1.951
Com os dados, o governo aponta um perfil mais comum entre pessoas que desenvolvem vício em apostas:
- homens entre 18 e 35 anos;
- majoritariamente negros;
- vivendo estresse, rupturas familiares e rotina instável;
- muitas vezes desempregados ou isolados.
É um público em situação de vulnerabilidade, que tende a buscar nas apostas uma saída rápida — e encontra um problema ainda maior.



