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Halo vacila na estrutura, mas conta uma história envolvente

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Os humanos são o problema do universo, ou a humanidade é a salvação dele? De uma forma ou de outra, quase toda história de ficção científica digladia com essa questão em algum ponto. É natural do gênero refletir sobre o nosso lugar no mundo (ou nos mundos, melhor dizendo), confrontar as limitações de quem somos e se perguntar se a inerente bondade ou maldade do ser humano – dependendo de qual é sua resposta para aquela primeira pergunta – um dia vai ser superada por uma forma maior de existência.

A série de Halo decidiu encarar esse dilema de frente já na primeira temporada, o que não é muito Halo da parte dela. Os jogos da franquia são conhecidos por sua mitologia complexa, sim, e por suas mecânicas de combate influentes, mas não exatamente por sua profunda meditação sobre a natureza humana. O que os showrunners Steven Kane e Kyle Killen mostraram, nestes nove primeiros capítulos de sua versão de Halo, é que esse universo se presta muito bem a essas e outras reflexões.

Os fãs vão reconhecer o protagonista Master Chief (Pablo Schreiber), mas ele está em uma jornada bem diferente aqui. Durante uma missão no planeta desértico de Madrigal, o guerreiro de elite descobre uma conexão quase mística com um artefato que estava sendo escavado pelas forças inimigas do Covenant, alienígenas com quem a humanidade está travada em uma guerra brutal. A partir daí, o soldado treinado e modificado para não deixar emoções interferirem no combate começa a questionar suas missões e seu passado.

A história que se desenha no começo da temporada de Halo é evocativa de dezenas de outras histórias de redescoberta de humanidade na ficção científica – pense nas cores e lembranças despertadas de O Doador de Memórias, ou na emoção intensa de Christian Bale ao ter seu primeiro contato com a música em Equilibrium. Como estes e outros protagonistas, Chief causa desconforto, até caos, em seu ambiente rigidamente controlado quando resolve começar a viver e sentir como uma pessoa normal.

A essência dessa história é recorrente no gênero por um motivo óbvio: ela funciona. É envolvente assistir enquanto alguém entra em contato pela primeira vez com sensações que talvez, na correria do dia a dia, nós mesmos tenhamos amortecido dentro de nós. E Schreiber, exemplarmente comprometido com a construção do seu Master Chief, entrega uma interpretação particularmente saborosa e crível dessa jornada. É na forma como delineia os efeitos desse despertar de humanidade que Halo vacila um pouco.

A série do Paramount+ funciona como um caminho sinuoso entre grandes setpieces de ação. Como o próprio astro adiantou ao Omelete, os capítulos 1, 5 e 9 da temporada incluem as maiores batalhas da série, realizadas em efeitos especiais acachapantes e senso de movimento e linguagem visual exemplar (o diretor Jonathan Liebesman, de As Tartarugas Ninja, prova seu valor aqui). Snippets de lutas corpo a corpo e um tiroteio particularmente memorável se espalham pelos outros episódios, mas grande parte de Halo se dedica a colocar os personagens nas posições certas do tabuleiro de xadrez para que tudo vá pelos ares de quando em quando.

É uma estrutura um pouco cansativa, especialmente quando os roteiristas se demoram em desvios narrativos que não levam a lugar nenhum. Por exemplo: a história de Kwan Ha (Yerin Ha), a sobrevivente daquela primeira missão de Chief em Madrigal, é carismática e pertinente para os temas de humanidade da série, especialmente em como ela se cruza com a de Soren (Bookem Woodbine). Difícil não pensar, no entanto, que ela seria muito melhor se contida em um ou dois episódios (o 1×08, todo focado nela, é na verdade bem bacana) ao invés de espalhada e estendida por toda a temporada.

Do jeito como foi arranjado, este primeiro ano de Halo é uma experiência um tanto frustrante, como estar em um carro que anda suavemente por uma estrada bem pavimentada por alguns quilômetros, só para depois pisar no freio e ficar preso em um engarrafamento interminável. É brilhante que a série tenha se divorciado de forma tão convicta dos jogos, e que tenha construído sua própria mitologia com um faro tão apurado para a tradição da ficção científica e para as entrelinhas antimilitaristas e anticolonialistas que podem surgir dela.

É brilhante e surpreendente, também, que seus personagens sejam tão vividamente humanos. Se encontrar um ritmo mais firme na já confirmada segunda temporadaHalo tem tudo para conquistar qualquer fã de sci-fi com a mente aberta o bastante para celebrar como novas visões podem revitalizar qualquer universo.

Fonte: Omelete.com

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